quarta-feira, 10 de junho de 2009

BONECAS KARAJÁ: FORMAÇÃO DOCUMENTAL DA COLEÇÃO NATALIE PETESCH (1986) DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI*

ANNA MARIA ALVES LINHARES**

A Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio
Goeldi realiza pesquisas sobre as populações indígenas na Amazônia
através de estudos sobre arqueologia, antropologia e lingüística.

A Reserva Técnica Etnográfica, mais especificamente,
atrelada ao Departamento de Antropologia, desenvolve projeto
voltado para a perspectiva de antropologia e museologia no conhecimento
acerca das populações indígenas amazônicas.

O projeto Coleções Etnográficas: formação e pesquisa
documental, sob a coordenação da Dra. Lúcia Hussak
van Velthem, objetiva, de modo específico, a formação e a
documentação de coleções etnográficas.

No que diz respeito à coleção etnográfica dessa coordenação,
em 1985, o acervo contava com um total de 13.370
peças, das quais 12.004 eram indígenas, 593 africanas, 110
nativas e 663 diversas (MPEG, 1986). Atualmente o acervo
tem 14.126 peças (MOURA, 2001). É um acervo1 bastante
heterogêneo, tanto no que diz respeito às áreas geográficas
de proveniência das peças (Brasil, África, Peru e Suriname)
como na constituição material que abrange todas as categorias
artesanais (MPEG, 1981).

Diante disso, com base nos dados desse acervo, percebe-
se sua importância. A grande variedade de objetos faz do
Museu Emílio Goeldi um elemento de instrução popular e,
numa linguagem pedagógica, uma eloqüente, ilustrativa e interessante
lição de coisas (ibidem, ibidem). Por isso não dispensa
o arranjo sistemático das coleções, sua classificação rigorosa, pois
a classificação é um instrumento básico que transforma as peças
em categorias sistemáticas, melhorando, assim, a sua compreensão
(RIBEIRO, 1988). Nessa perspectiva, o Museu Goeldi tem
como característica básica a missão de conservar as peças, estudálas
e principalmente valorizá-las.

Essa coleção foi coletada pela antropóloga francesa
Natalie Petesch no ano de 1986. É originária dos índios Karajá,
do Centro-Oeste, às margens do Rio Araguaia.

CATÁLOGO DA COLEÇÃO NATALIE PETESCH

Os dados referentes a cada objeto foram agrupados
em seis itens. O primeiro constitui a identificação propriamente
dita, seguindo-se a ordem alfabética da numeração
que se encontra no pré-tombo. O segundo item é a numeração
do pré-tombo, em que aparece a indicação de campo.

O terceiro item descreve o que a peça representa de uma forma
geral. O quarto apresenta a descrição minuciosa da peça,
no que tange os aspectos decorativos, como a utilização de
adornos ou atavios encontrados em algumas peças, seus significados
para o grupo, a representação de pinturas e de motivos
corporais. O quinto refere-se à medida das peças. O último
item é composto de referências bibliográficas que auxiliaram
na confecção do catálogo.

Foram catalogadas 25 peças. A maioria delas se encontra
em excelente estado de conservação. As poucas peças
que apresentam problemas de conservação têm uma observação
no final dos dados específicos.

A figura 1, uma cerâmica moderna, apresenta dinamismo,
movimentação e policromia. É um barquinho em
que se encontram três figuras: a representação de um adulto,
de uma criança e de um animal, provavelmente um cachorro.

As figurinhas se encontram sentadas. É a representação
de uma cena do cotidiano Karajá, em que o pai sai para a
pesca (subsistência) e leva seu filho como aprendiz.
Figura 1: Boneco/Cena do Cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo- sem número; identificação
de campo – sem número.
Medidas da peça em cm: altura – 14,5cm; largura – 28,5cm; espessura – 6cm.
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

Quanto aos motivos ou pinturas corporais, o vermelho
e o preto predominam. Os dois círculos que se
encontram na maça do rosto do adulto e da criança se
chamam Komarira (NETO, 1984). As três representações
têm uma pintura preta sobre os olhos. Os motivos
pontilhados no tronco e no braço da criança se chamam
Knanawá, que significa peixe jaraqui (FÉNELON-COSTA,
1978). Os motivos que se encontram no tronco ligandose
ao antebraço do adulto se chamam Ixalubú e Narihílubú,
têm como significado "braço negro da ‘ave cigana’ ". No
joelho do adulto se encontra o motivo Mnálubu ou "Joelho
Preto", pintado com uma faixa preta (FÉNELONCOSTA,
1978).
Figura 2: Boneca/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo - 1/86-1/25; indicação
de campo - sem número.
Medidas da peça em cm: altura –38,5cm; largura – 14cm; espessura – 8cm.
Fonte: Faria (1959); Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

A figura 2 é, também, uma cerâmica moderna. Apresenta
bastante realismo a respeito de um jovem Karajá com
todos os adornos e pinturas corporais. Chama-se Diadomã.

Está em idade de casamento, como indicam os atavios e pinturas
que usa (NETO, 1984). A figura se encontra de pé,
com as mãos em cima das coxas. Tem longos cabelos negros
que caem para trás da peça. Quanto aos adornos, o cordão se
chama Sicura e alterna as cores preta e branca, e as ligas no
tornozelo se chamam Waraú (FÉNELON-COSTA, 1978).

Tanto o cordão quanto as ligas são feitos de algodão. A figura
está com a representação de uma tanga de líber, uso exclusivamente
feminino entre os Karajá (FARIA, 1959). A figura
tem grandes braceletes vermelhos em ambos os lados dos tornozelos.

Quanto aos motivos e pinturas, ela apresenta uma
pintura vermelha acima dos olhos, e os círculos pretos que se
encontram na maçã do rosto da figura se chamam Komarira
(NETO, 1984). O motivo que se encontra em cima do nariz
na forma de uma listra vertical, cortado por riscas horizontais
paralelas, seria a representação da lagarta Idiaré chamada
de Ikresíkresí. Esse motivo é denominado Idiarekumã ou
Koratutiretí. O motivo da parte inferior do rosto em ziguezague
se chama Turehé, nome dado ao morcego (FÉNELONCOSTA,
1978). Os motivos do tronco e dos braços são
geométricos, em linhas verticais paralelas com cortes em forma
de losango por linhas retas. No meio dos losangos, linhas
paralelas horizontais finalizam o motivo corporal. A pintura
encontrada na perna se chama Turahérekô e Haarú representando
o ziguezague do morcego e uma variedade do pacu
(triângulos pretos respectivamente). A faixa preta sobre o joelho
se chama Mnálubú ou "Pedra Preta". A figura tem uma pintura
vermelha sobre os pés.
Figura 3: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-2/86-2/25; indicação de
campo – 8.
Medida da peça em cm: altura – 37,5cm; largura – 20cm; espessura – 25cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Lima (1986); Neto (1984); Toral (1992).

A figura 3, cerâmica moderna, representa um jovem
solteiro Wekiriká, Karajá, com todos os adornos e pinturas corporais
representativos do grupo, apresentando movimento e
dinamismo (NETO, 1984). A figura se encontra sentada com
as mãos apoiadas nos joelhos. Tem uma extensa cabeleira negra
que se encontra amarrada e caída para trás. Quanto aos
adornos, a figura está com brincos de penas de coloração vermelha
e vestígios de amarelo. Provavelmente são de pena de
ave, geralmente pena de colhereiro, uma espécie de ave (Platalea
ajaja L.) (LIMA, 1986). O colar se chama Sicura e nele se
alternam as cores preta e branca. As ligas que se encontram
abaixo do joelho se chamam Dekobuté (FÉNELON-COSTA,
1978). Os dois adornos são de algodão. A figura usa dois grandes
braceletes vermelhos nos braços.

Quanto aos motivos e pinturas, a figura apresenta
uma pintura vermelha acima dos olhos, e os dois círculos
pretos que se encontram na maçã do rosto se chama Komarira
(NETO, 1984). Já o motivo que se encontra em cima do
nariz se chama Ikresíkresí, Idiarekumã ou Koratutiretí; é feito
com uma linha vertical cortada por riscas horizontais paralelas,
que é a representação da lagarta Idiaré. O motivo da parte
inferior do rosto é chamado de Turehê, nome dado a morcego.

O busto preto representado no tronco se chama Ixálubú ou
Atanálorudélubú – braço preto do pássaro cigana. São formas
triangulares pretas sobre o busto que se prolongam em zonas
negras na parte interna e anterior dos braços (FÉNELONCOSTA,
1978). A pintura que se encontra logo abaixo do
joelho se chama Haarú. Significa um peixe parecido com o
pacu (TORAL, 1992). A grande pintura preta sobre o joelho
se chama Mnálubú ou "Pedra Preta". Já as linhas horizontais
das pernas se chamam Itiwekró (FÉNELON-COSTA,
1978). A figura tem uma pintura vermelha sobre os pés.

Essa peça sofreu restauro.

A figura 4, é uma cerâmica moderna que apresenta
dinamismo e movimento. A figura representa um ser mitológico
chamado Ueni (NETO, 1984). Ela se encontra sentada
com uma criança no colo.
Figura 4: Boneca/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -3/86-3/25; indicação
de campo -10.
Medidas da peça em cm: altura – 15,5cm; largura – 8,5cm; espessura – 8cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).


A representação tanto do personagem adulto quanto
da criança tem longos cabelos negros jogados para trás.
Quanto a pinturas e motivos corporais, os dois círculos
que se encontram na maçã do rosto da representação
do personagem adulto se chama Komarira (NETO, 1984).

Não foi possível uma designação da pintura encontrada no
rosto da criança. A representação do personagem adulto tem
em seus braços e pernas variantes de uma pintura denominada
Haarú. Significa uma variedade de pacu (triângulos), já o
ziguezague se chama Turahérekô que representa o vôo do
morcego. O motivo da criança pode se chamar Wekrówekró,
nome dado a qualquer espécie de listra (FÉNELON-COSTA,
1978).
Figura 5: Boneca/Cena do Cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de: Alessandra Gomes; pré-tombo - 4/86-4/25; indicação de
campo -5.
Medidas da peça em cm: largura – 19cm; largura – 9cm; espessura – 8cm.
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

A figura 5, cerâmica moderna, apresenta dinamismo
e movimentação. Representa uma cena do cotidiano: a
figura se encontra sentada com uma tigela nas pernas como
se estivesse produzindo mandioca. Representa uma mulher.
A figura apresenta uma longa cabeleira negra que
chega às costas.

Quanto a motivos e pinturas corporais, a figura apresenta
uma pintura vermelha acima dos olhos, e os dois círculos
que se encontram na maçã do rosto da figura se chama
Komarira (NETO, 1984). Abaixo do pescoço, existem duas
linhas horizontais: uma vermelha e outra preta. O motivo do
tronco, provavelmente, é uma interligação do motivo de Raradié
III com o Ixálubú. O Raradié seriam esses triângulos negros
ligados por essas listras, sempre representados no busto, e na
região epigástrica e abdominal. Ele pode ser chamado de Tosõ
que significa passarinho e de Raradié II que significa "urubu
miranga". Ixálubú seria essa outra forma triangular negra sobre
o busto, por fora desse motivo anterior, então chamado também
de Atanálorudélubú ou "braço preto do pássaro cigana"
(FÉNELON-COSTA, 1978).

O motivo do braço, que apresenta
uma faixa preta, se chama Axikolubú e representa o
peixe btontí. Os desenhos das pernas se chamam Turahéreko
ou Haarú. São triângulos pretos (representam o morcego) e
linhas em ziguezague (representam o pacu) (FÉNELONCOSTA,
1978). A tigela encontrada na perna da figura é
circular e tem a borda pintada de preto. O conteúdo da tigela
tem pintura preta e vermelha. Os pés da figura estão pintados
de vermelho (FÉNELON-COSTA, 1978; NETO, 1984).
Figura 6: Boneco/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -5/86-5/25; indicação de
campo -5.
Medidas da peça em cm: altura – 13,5cm; largura – 6cm; espessura – 10cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).


A figura 6 é uma cerâmica moderna que apresenta
dinamismo e movimentação. Essa é a figura mitológica chamada
Kboí (NETO, 1974). A representação aparece sentada.

Tem braços curtos, pernas curtas e uma grande barriga. Não
tem representações faciais. A peça tem vários círculos modelados
em argila em cima da representação da cabeça. Ela também
apresenta um grande umbigo no meio da barriga.

Quanto a motivos e pinturas, no pescoço da figura
se encontram motivos pontilhados que se chamam Kananawá
(FÉNELON-COSTA, 1978). Eles são encontrados na "barriga
grande" e representam o peixe jaraqui. Nos pequenos
braços se encontram pinturas pretas em forma de listras verticais.

Nos pés também se encontram pinturas pretas em formas
verticais e paralelas. Os pés estão pintados de preto.
Figura 7: Boneco/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -6/86-6/25; indicação de
campo -5
Medidas da peça em cm: altura – 19cm; largura – 8cm; espessura – 14,5cm
A figura 7 é uma cerâmica moderna. Uma figura
sobrenatural antropomorfa. Representa o ser mitológico
Adjoromani (NETO, 1984).

A figura se encontra em pé, tem a representação de
dois grandes olhos e um longo nariz. Tem bolinhas modeladas
em cima de cabeça. Nos braços da figura se encontram dois
grandes braceletes, um de cada lado.

Quanto a pinturas e motivos, na cabeça, a figura
tem quatro listras, duas listras paralelas de cada lado. Ao redor
dos olhos tem dois círculos negros, e no nariz, tem listras
paralelas horizontais agrupadas de duas em duas até o final
da representação do nariz. Já no corpo, a figura tem, em cada
lado, duas listras verticais, cortadas por agrupamentos de duas
listras horizontais, que se estendem desde os braços até o
final das pernas.

Ela tem no corpo inteiro pinturas amareladas
Figura 8: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -7/86-7/25; indicação de
campo -8.
Medidas da peça em cm: altura – 19cm; largura – 8cm; espessura – 14,5cm.
Referências: Fénelon-Costa (1978); Toral (1992).

A figura 8 é uma cerâmica moderna, com influências
da cerâmica antiga. A peça se encontra sentada, não tem
representação dos órgãos dos sentidos na cabeça e tem pequenos
braços.

Quanto a motivos e pinturas, no tronco, há triângulos
pretos ligados por uma linha vertical e, nas pernas, a representação
de um ziguezague, que se chama Haarú (TORAL,
1992). Os motivos das pernas podem ser chamados também
de Turahérekô, que significa morcego, e os triângulos tanto do
tronco quanto das pernas significam a representação do pacu
(FÉNELON-COSTA, 1978). A mesma representação dos triângulos
se encontram nos pés da figura.

Ela tem pinturas amareladas por todo o corpo.
Figura 9: Boneco/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo: 8/86-8/25; indicação de
campo -16.
Medidas da peça em cm: altura – 21,5cm; largura – 9,5cm; espessura – 15,5cm.
Referências: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).


A figura 9 é uma cerâmica moderna que representa o
ser bicéfalo sobrenatural antropomorfo chamado Inãrasonuésonué,
ou seja, Karajá com muitas cabeças (NETO, 1984).
A figura se encontra sentada com uma tigela circular
nas pernas como se estivesse preparando mandioca. Ela
tem uma longa cabeleira negra que se estende até as costas e,
também, tem a representação de um umbigo bem centralizada
na barriga.

Quanto a motivos e pinturas, os dois rostos têm dois
círculos pretos abaixo dos olhos que se denominam Komarira
(NETO, 1984).

No tronco, o motivo representa linhas retas agrupadas
duas a duas, perpendicularmente umas às outras, formando
uma cruz num quadrilátero de linhas duplas; nos braços,
há um padrão cruciforme, limitado dentro de linhas horizontais
paralelas. Os dois motivos são denominados Raradié
I. O motivo que se encontra na parte superior da coxa, de
triângulos em ziguezague, se chama Turéherekô e Haarú. Representa
o vôo do morcego e do pacu (FÉNELON-COSTA,
1978). Na parte inferior da coxa se encontra um motivo gradeado,
de várias listras horizontais, cortadas por uma única
listra vertical dentro de um retângulo que envolve toda a
coxa da figura. O conteúdo da tigela tem pequenas listras
pretas. A tigela se encontra pouco descolada da peça.

A figura 10, abaixo, é uma cerâmica
antiga, sem movimentação. Tem pequenina cabeça e pequeninos
braços. Tem um fino tronco em relação às grandes pernas em
forma bulbar. A peça se encontra em pé.

Quanto a motivos e pinturas, na cabeça há uma pintura
vermelha no meio de duas listras pretas e no pescoço, uma
listra horizontal vermelha. As listras paralelas em ziguezague que
se encontram no tronco se chamam Turaherekô, e os pontilhados
dentro desse motivo se chamam Udeúdé (FÉNELON-COSTA,
1978). No meio do motivo, há a representação de um umbigo
bem centralizado. O motivo encontrado nas pernas da figura
chama-se Koékoé, nome genérico dado às gregas e suas variantes,
porque "dá muita volta" (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 11: Boneca/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo - 11/86-11/25; indicação
de campo -5.
Medidas da peça em cm: altura – 23cm; largura – 12cm; espessura – 15,5cm.
Referências: Fénelon- Costa (1978); Lima (1986); Neto (1984).


A figura 11 é uma cerâmica moderna, mostra todos
os adornos e pinturas corporais Karajá, denotando dinamismo
e movimento. A figura se encontra sentada com as mãos
nos dois joelhos. É a representação de uma jovem Diadomã
(NETO, 1984). A figura apresenta uma longa cabeleira negra
jogada nos ombros. Quanto aos adornos ou atavios, a
boneca usa brincos de penas vermelhas com manchas amarelas,
provavelmente de ave vermelha, chamada colhereiro, uma
espécie de ave a Platalea ajaja L. (LIMA, 1986). O brinco do
lado esquerdo se encontra solto. A figura tem um colar em
que se alternam as cores preta e branca, denominado Sicura
(NETO, 1984). A liga encontrada abaixo do joelho se chama
Dekobuté (FÉNELON-COSTA, 1978). Tanto a liga quanto
o cordão são de algodão. A figura tem uma tanga de líber e
dois grandes braceletes vermelhos em ambos os braços.
Figura 12: Boneca/Cena do Cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-12/86-12/25; indicação de
campo -2.
Medidas da peça em cm: altura – 20,5cm; largura – 10cm; espessura –1,5cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

Figura 12: cerâmica moderna. Dinâmica e com movimentos,
representa uma cena do cotidiano, provavelmente o
processamento da mandioca. A figura se encontra em cima de
uma base retangular, de pé, com um pilão à sua frente e com
um grande bastão como se estivesse amassando a mandioca.

A boneca tem uma cabeleira negra que se estende até as costas.

Sobre os motivos e pinturas: no rosto, a figura tem
dois círculos pretos chamados Komarira (NETO, 1984), e
ao lado desses círculos há pinturas em vermelho, e, na parte
inferior do rosto, se encontram três traços pretos, um ao lado
do outro. No pescoço a figura tem uma pintura vermelha
com uma listra preta logo abaixo. Nos braços a figura tem
listras horizontais paralelas dentro de um retângulo, que também
se encontram no início do tronco. Logo abaixo, ainda no
tronco, se encontram gregas denominadas KoéKoé ou Koékoéitidí,
porque "dá muitas voltas" (FÉNELON-COSTA, 1978).

Na ponta do bastão representado se encontra uma pintura
preta. Os motivos encontrados na base retangular são a representação
do ziguezague do morcego que se chama Turahérekô
e do peixe pacu, que se chama Haarú. O triângulo representa
o peixe (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 14: Boneca/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-14/86-14/25; indicação de
campo -3.
Medidas da peça em cm: altura – 17cm; largura – 3,5cm; espessura – 2cm Fonte: Fénelon-Costa (1978);
Neto (1984).


Figura 14: cerâmica moderna com certa influência
da cerâmica antiga. A figura se encontra em pé, com pouco
dinamismo e movimentação. Tem pequeninos braços e a figura
em si tem uma forma triangular. A boneca possui uma cabeleira
negra que se estende até às costas da representação. No
centro da barriga, a figura possui a representação de um umbigo.

Sobre as pinturas e motivos corporais: no rosto da
representação, bem no centro da testa, existe um círculo
amarelado e nos lados, duas listras pretas. Ao redor dos pequenos
braços, existem dois círculos pretos. No tronco da
peça, existem duas listras verticais pretas e, aos lados, na cintura,
um grande retângulo preto que envolve três grupos de
quadrados negros que se estendem até as costas.
Figura 13: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo - 13/86-13/25; indicação
de campo – 4.
Medidas da peça em cm: altura; 23,5cm; largura – 11,5cm; espessura – 14,5cm.
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

Figura 13: cerâmica moderna. Apresenta dinamismo
e movimentação. É a representação de um jovem solteiro
Wekiríba (FÉNELON-COSTA, 1978). A pessoa está sentada
com as duas mãos acima dos joelhos. Na representação há
um longo cabelo negro, como se estivesse amarrado e jogado
para trás. A peça está toda caracterizada com adornos e pinturas
corporais Karajá. Quanto aos adornos, o cordão encontrado
na peça se chama Sicura e alterna as cores preta e
branca. Já as ligas que se encontram abaixo dos joelhos se
chamam Dekobuté (FÉNELON-COSTA, 1978). Tanto o
cordão quanto as ligas são feitos de algodão. Nos punhos, se
encontram modelados dois grandes braceletes vermelhos.

Quanto a pinturas e motivos, acima dos olhos se
encontram pinturas vermelhas, e, na maça do rosto, existem
dois círculos pretos que se chamam Komarira (NETO,
1984). A pintura acima do nariz, uma listra horizontal com
duplas entrecortadas, se chama Idiarekumã, Ikresíkresí ou
Koratutíretí e representa a lagarta Idiaré. Na parte inferior
do rosto, os triângulos são a representação do pacu que se
chamam Haarú e o ziguezague do motivo representa o vôo
do morcego, denominado Turahérekô. O mesmo significado
é atribuído ao motivo que se encontra na lateral da figura,
na cintura. O busto preto no tronco, que se estende aos
braços, se chama Ixalúbú ou Atanálorudélubú que significa
"braço preto do pássaro cigana" (FÉNELON-COSTA, 1978)

No meio do abdômen, a figura tem uma grande pintura
vermelha. Tanto os braços quantos as pernas têm listras pretas
horizontais e paralelas. A pintura preta que se encontra acima
dos joelhos se chama Mnálubu que significa "pedra preta"
(FÉNELON-COSTA, 1978). O pés da figura estão
pintados de vermelho.
Figura 15: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo- 15/86-15/25; indicação de
campo - Sem Número.
Medidas da peça em cm: altura – 13cm; largura – 7,5cm; espessura – 1-2cm.
Referência: Fénelon-Costa (1978).

Figura 15: cerâmica moderna com influências da cerâmica
antiga. Há pouco dinamismo e pouca representação de
movimentos. Possui uma cabeça triangular, pequeninos braços
e uma forma triangular.

Sobre os motivos e pinturas corporais: na cabeça,
possui duas listras retas paralelas em cujo meio há pontilhados
pretos. Esse motivo chama-se Knanawá, significando a
representação do peixe jaraqui. Ao longo do corpo, a figura
possui listras pretas que começam na barriga e se estendem
até às costas; são paralelas e podem ser chamadas de Wekrówekró
(FÉNELON-COSTA, 1978).

Toda a figura possui manchas amareladas.
Figura 15: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo- 15/86-15/25; indicação de
campo - Sem Número.
Medidas da peça em cm: altura – 13cm; largura – 7,5cm; espessura – 1-2cm.
Referência: Fénelon-Costa (1978).


Figura 15: cerâmica moderna com influências da cerâmica
antiga. Há pouco dinamismo e pouca representação de
movimentos. Possui uma cabeça triangular, pequeninos braços
e uma forma triangular.


Sobre os motivos e pinturas corporais: na cabeça,
possui duas listras retas paralelas em cujo meio há pontilhados
pretos. Esse motivo chama-se Knanawá, significando a
representação do peixe jaraqui. Ao longo do corpo, a figura
possui listras pretas que começam na barriga e se estendem
até às costas; são paralelas e podem ser chamadas de Wekrówekró
(FÉNELON-COSTA, 1978).


Toda a figura possui manchas amareladas.
Figura 16: Boneco/Figura Humana
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -16/86-16/25; indicação de
campo -10.
Medidas da peça em cm: altura – 40cm; largura – 13cm; espessura – 10cm/Lança: 38cm de comprimento.
Referências: Fénelon-Costa (1978); Lima (1986); Neto (1984).


Figura 16: cerâmica moderna, tem movimentação e
dinamismo. É a representação de um jovem solteiro Wekiríba
com todos os adornos e pinturas corporais Karajá (FÉNELONCOSTA,
1978). A figura se encontra de pé, segurando uma
lança, como se estivesse preparado para a caça. Possui uma cabeleira
negra que se estende às costas. Sobre os adornos ou atavios:
o boneco tem dois brincos de penas vermelhas com partes amareladas,
provavelmente da ave chamada colhereiro, (Platelea ajaja
L.) (LIMA, 1986). O colar se chama Sicura e alterna as cores
preta e branca (NETO, 1984). As ligas que se encontram abaixo
dos joelhos se chamam Dekobuté (FÉNELON-COSTA, 1978).

Tanto o cordão quanto as ligas são feitas de algodão. A lança tem
a amarração de algodão e alterna as cores em preto e branco.
A sua ponta é vermelha e tem, uma pena amarela amarrada nela.

Quanto a pinturas e motivos corporais, a figura acima dos olhos,
tem uma pintura vermelha e, na maçã do rosto, tem duas pinturas
circulares, com dois círculos pretos que se chamam Komarira
(NETO, 1984). Acima do nariz, existe uma linha vertical,
entrecortada por linhas paralelas horizontais, que se chama Ikresíkresí,
Idiarekumã ou Koratútiretí; na parte inferior do rosto, o
motivo em ziguezague triangular é chamado de Turehé e Haarú
e representa o vôo do morcego e do peixe pacu, respectivamente.

O mesmo significado vale para o motivo que se estende da
cintura às pernas da figura. No meio desse motivo, no tronco da
representação, se encontra uma pintura vermelha. O motivo
que se estende dos braços ao peito se chama Ixalúbú ou Atanálorudelubú.

O braço preto significa o pássaro cigana. No joelho,
a faixa negra se chama Mnalúbú ou "pedra preta" (FÉNELONCOSTA,
1978). Logo abaixo se encontram três faixas negras
paralelas em forma horizontal. Os pés da figura estão pintados
de vermelho. A perna direita e o braço direito estão quebrados.
Figura 17: Boneco/Figura Humana
Notas: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -17/86-17/25; indicação
de campo – 11.
Medidas da peça em cm: altura – 20,5cm; largura – 8,5cm; espessura – 15cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978).


Figura 17: cerâmica moderna. Apresenta influências
da cerâmica antiga, mas demonstra movimentação. A figura
está sentada e possui pequena cabeça e pequeninos braços,
com a representação inferior do corpo um pouco maior do
que a parte superior. No meio da barriga, tem a representação
de um umbigo.

Quanto a motivos e pinturas corporais, na cabeça
se encontram três listras pretas. O tronco possui três séries
de quadrados de listras paralelas com motivos pontilhados
no seu interior. Esse motivo se chama Knanawá (FÉNELONCOSTA,
1978). Nas pernas, encontra-se um motivo que representa
uma série de retângulos e no seu interior se entrecortam
listras verticais em duplas. Nos pés, os triângulos em ziguezague
são denominados de Turehérekó e Haarú e representam
o vôo do morcego e do peixe pacu, respectivamente
(FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 18:
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-18/86-18/25; indicação de
campo -4.
Medidas da peça em cm: altura – 23cm; largura – 13,5cm; espessura – 10,5cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Toral (1992).


A figura 18 é uma cerâmica antiga. Não apresenta
movimentação nem dinamismo. A figura se encontra em pé,
possui uma pequena cabeça, pequeninos braços e um tronco
fino em relação às grandes pernas de formato bulbar. No centro
da barriga, encontra-se a representação de um umbigo.
Quanto a pinturas e motivos, no tronco se encontram
três representações de forma gradeada, em retângulos,
que, no seu interior, possuem linhas verticais paralelas cortadas
por uma única linha horizontal. Já nas pernas, esses motivos
são chamados de Odjudjúreti e são alusivos a um "gancho
de pau" utilizado pelos Karajá em um ritual chamado Hetohokã
(FÉNELON-COSTA, 1978). As variantes desse motivo podem
ser chamadas de Koé-Koé (TORAL, 1992). Nesse motivo
se encontram pinturas vermelhas. A perna direita da peça
se encontra descolada e quebrada.
Figura 19: Boneco/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -19/86-19/25; indicação de
campo -1.
Medidas da peça em cm: altura – 40cm; largura – 20cm; espessura – 12cm.
Fonte: Fénelon-Costa (1978)


Figura 19: cerâmica moderna. Representa um ser
sobrenatural antropomorfo. A figura se encontra de pé, possui
longos cabelos negros, que se estendem aos ombros,
pequeninos braços, um grandioso tronco e as pernas em forma
arredondada.
Quanto a pinturas e motivos, no rosto se encontra
um motivo vermelho em forma de X e, ao seu redor, listras
pretas. O motivo que se encontra no tronco é uma variante do
"Haarú" que significa "peixe pacu" Os triângulos são ligados
uns aos outros por retas. Já o motivo encontrado nas pernas da
figura é uma variante do motivo denominado Omá que significa
"um bicho da água" (FÉNELON-COSTA, 1978). A peça
possui leves rachaduras e uma grande mancha entre as pernas.
Figura 20: Boneca/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -20/86/xx; indicação de
campo -1.
Medidas da peça em cm: altura – 40,5cm; largura – 22cm; espessura – 10,5cm.
Referências: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).


A figura 20 é uma cerâmica moderna. É a representação
de um ser sobrenatural antropomorfo denominado Benoráwáwaxi
ou Benoráireti, que seria a representação do peixe
tucunaré. A sua cabeça em forma de dois cones seria a representação
do rabo ou cauda do peixe (FÉNELON-COSTA, 1978).


É uma figura bastante grande, com a cabeça em forma
de dois cones, com um longo pescoço, dois pequeninos braços,
um imenso corpo de forma arredondada e grandes pernas em
forma bulbar. Quanto a motivos e pinturas, abaixo dos olhos se
encontram duas pinturas em forma de círculo que se chamam
Komarira (NETO, 1984). No pescoço se encontra uma listra
negra. Os braços também são pintados de preto. Os motivos
encontrados no tronco da representação são denominados de
Omá que tem o significado de "bicho da água". Já os encontrados
nas pernas da figura, grandes triângulos negros puxados por
uma linha vertical pontuda, são denominados Raradié III, que é
a representação do urubu miranga ou Tosõ, que representa um
passarinho (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 21: Boneco/Figura Mitológica
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -21/86-xx; indicação de
campo -2.
Medidas da peça em cm: altura – 38cm; largura – 21,5cm; espessura – 11,5cm.
Referência: Fénelon-Costa (1978).


A figura 21 é uma cerâmica moderna. Ela representa
um ser sobrenatural antropomorfo denominado Krerá, um martim
pescador Kré, que tem na cabeça uma placa horizontal, caracterizando
um bico de pássaro, e em que geralmente se pintam manchas
ou círculos indicativos de penas (FÉNELON-COSTA, 1978).


Possui um grande corpo. No rosto tem apenas a representação
dos olhos. Tem um pescoço alongado, pequeninos
braços e pés com forma arredondada. A figura possui uma
longa cabeleira negra que se estende até às costas.


Quanto a motivos e pinturas, no pescoço se encontra
um motivo que se estende às partes laterais da figura. São listras
paralelas com motivos pontilhados no seu interior. Esse motivo é
uma variante do motivo chamado Omá que significa "um bicho
da água". Nas pequenas mãos se encontram listras pretas. O motivo
que se encontra no tronco da figura, em forma de uma grande
coluna paralela cortada por diversas linhas, como se estivesse
enrolada, é denominada de Odjudjuretí que significa "um bicho
da água". Nas pequenas mãos se encontram listras pretas. O motivo
que se encontra no tronco da figura, em forma de uma grande
coluna paralela cortada por diversas linhas, como se estivesse
enrolada, é denominada de Odjudjuretí que significa "gancho de
pau" utilizado em um ritual chamado Hetohokã. É uma variante
grega. Já o motivo que se encontra nos pés é uma variante grega
que se denomina Kobirariti (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 22: Boneca/Cena do Cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição me de Alessandra Gomes; pré-tombo - 22/86-22/25; /Cena do
Cotidiano.
Medidas da peça em cm: altura – 15cm; largura – 9,5cm; espessura –16,5cm.
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).


Figura 22: cerâmica moderna. Representa uma cena
do cotidiano Karajá, em que provavelmente uma mulher processa
a feitura da mandioca. A figura se encontra sentada em
cima de uma base retangular, e na sua frente se encontra
modelada uma tigela de barro e duas peças não identificadas:
uma com forma alongada deitada no chão e a outra em pé
com duas formas de cone em cima da representação. A figura
possui uma cabeleira negra jogada para trás das costas.


Quanto a motivos e pinturas corporais, ao redor dos
olhos existem duas pinturas vermelhas e, abaixo dos olhos, há
duas representações em forma de círculo que se chamam Komarira
(NETO, 1984). Nos peitos e nas pernas se encontram listras
paralelas fechadas com retângulo, que, no seu interior, possuem
outras listras paralelas que entrecortam o motivo. Essas
listras podem ser denominadas Wekrówekró (FÉNELON-COSTA,
1978). A tigela que se encontra em cima da base possue a
borda pintada de preto, e a peça modelada ao lado possue linhas
verticais paralelas pretas. Já a peça, que se apresenta em
pé, possui a cabeça vermelha, e no seu corpo tem motivos em
forma triangular e em ziguezague denominados Turahérekô e
Haarú. É a representação do vôo do morcegoe do peixe pacu,
respectivamente (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 23: Boneco/Cena do cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo -23/86/xx; indicação de
campo -5.
Medidas da peça em cm: altura – 17cm; largura – 14cm; espessura – 20cm
Medidas da figura quebrada: altura – 16cm; largura – 12cm; espessura – 9cm.
Referência: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

A figura 23 é uma cerâmica moderna que representa
uma cena do cotidiano. Não foi possível detectar que cena está
representada na cerâmica. Provavelmente seja uma criança deitada
e sua mãe e seu pai sentados a seu lado. A representação da mãe
possui uma grande cabeleira negra que se estende até as costas.


Quanto a motivos e pinturas, abaixo dos olhos da
representação da mãe se encontram duas pinturas em forma
de círculo que se chamam Komarira (NETO, 1984). As pinturas
que estão no tronco dessa representação são linhas paralelas
duplas que formam um retângulo. Elas têm no seu interior
linhas paralelas e, nos seus braços, a figura possui duas séries
de linhas duplas agrupadas. As pernas têm duas listras verticais,
cortadas por listras horizontais paralelas. Na criança, os
motivos que se encontram no tronco e que se estendem até os
braços são duplas de listras dentro de uma paralela fechada. Já
nas pernas, são duplas de paralelas horizontais. Na figura do
homem, que se encontra de costa, o motivo que se estende dos
braços até as pernas – linhas retas agrupadas duas a duas, perpendiculares
umas às outras, formando várias cruzes –, se chama
Raradié I e é representativo de uma ave (FÉNELON-COSTA,
1978). A cabeleira do homem é pintada de preto. A representação
do homem se encontra descolada da base e seus braços se
encontram quebrados.

Figura 24: Boneco/Cena do cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-25/86-xx; indicação de
campo -1.
Medidas da peça em cm: altura – 18cm; largura – 17,5cm; espessura – 10,5cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

Figura 24: cerâmica moderna que representa uma
cena do cotidiano Karajá. É um homem tentando capturar
uma onça pintada com uma borduna nas mãos e com a ajuda
de dois cachorros. A caça se encontra em cima de um tronco
de árvore fugindo dos caçadores. A cena está representada
em cima de uma base retangular. A figura apresenta grande
realismo, dinamismo e movimentação.

Quanto a pinturas e motivos, nos olhos da figura do
homem se encontra uma pintura vermelha, e abaixo dos olhos
se encontram duas pinturas em forma de círculo que se chamam
Komarira (NETO, 1984). Os motivos encontrados ao
lado do corpo do homem são linhas horizontais agrupadas em
três paralelas e em três séries cortadas por uma única linha
vertical, dentro de um retângulo. O busto preto do homem é
chamado Ixálubú ou Atanálorudélubú que significa "braço preto
do pássaro cigana" (FÉNELON-COSTA, 1978). Nos braços
se encontram listras pretas e uma grossa faixa vermelha de ambos
os lados. O homem possui uma cabeleira negra.

Um dos cachorros está totalmente pintado de preto
e o outro possui alguns círculos negros e a cabeça preta. Na
borduna, que o homem segura, se encontram motivos vermelhos
e pretos. Na base, em que se encontra a representação,
está pintado um motivo pontilhado dentro de linhas
paralelas pretas, denominadas Omá que significa "um bicho
da água" (FÉNELON-COSTA, 1978).

A figura 25 representa uma boneca em madeira provavelmente
do estilo moderno por apresentar motivos e adornos
corporais dos Karajá, típicos dessa fase. A peça se encontra em pé,
com pouca representação de movimentos. Seu cabelo e seus pés se
encontram pintados de preto. A boneca usa brincos de penas vermelhas
com manchas amarelas, provavelmente de ave vermelha,
chamada colhereiro, a "Platalea ajaja L." (LIMA, 1986).

Quanto aos motivos talhados na na peça, abaixo dos
olhos se encontram dois círculos na maçã do rosto que se
chamam Komarira (NETO, 1984). Na parte inferior do rosto,
o motivo em ziguezague é chamado de Turehé, nome dado
ao vôo do morcego (FÉNELON-COSTA, 1978).
Figura 24: Boneco/Cena do cotidiano
Nota: a foto é de Carlos Chaves; a edição é de Alessandra Gomes; pré-tombo-25/86-xx; indicação de
campo -1.
Medidas da peça em cm: altura – 18cm; largura – 17,5cm; espessura – 10,5cm
Fonte: Fénelon-Costa (1978); Neto (1984).

No busto da peça, se encontra um motivo denominado
Ihakãreti, especificamente feminino, pintado apenas nos
seios das mulheres Karajá. São ângulos retos de linhas duplas
com pontos. São usados dois padrões iguais e simétricos. Mais
abaixo, no tronco da peça, linhas paralelas perpendiculares
formam filas até o início das pernas. Nas pernas se encontram
motivos em forma de losango dentro de grandes retângulos
talhados.

Conclusão

A produção desse catálogo oportunizou ressaltar o
papel primordial dessas coleções como fonte de informações,
que, documentadas, se tornam referências para a pesquisa
científica assim como instrumento de transmissão de conhecimentos,
desempenhando seu papel social, porquanto a contextualização
museológica da coleção Karajá, obtida através
da formação do catálogo, pôde exemplificar o que as coleções
etnográficas mostram ser na realidade, a saber, documentos
materiais que, ao serem estudados, demonstram a
relevância do tema como instrumento de análise e compreensão
de determinado grupo étnico (RIBEIRO; VAN VELTHEM,
1992; DOMINGUES-LOPES, 2002).

A documentação, como foi realizada com a coleção
Natalie Petesch, mostrou-se importante porque, além do conhecimento
antropológico e histórico que pôde ser reunido, as peças
puderam também ser analisadas de outras perspectivas, como
através da estética do grupo, por exemplo, que se expressou na
variedade de pinturas e motivos decorativos detectados nessas
produções, assim como de suas relações com o meio ambiente
do qual extraem a matéria prima necessária (LINHARES, 2004).

Esses aspectos têm relação com a importância da determinação
tipológica de coleções etnográficas, pois tais exames detalhados
podem ser direcionados para esses outros ramos de
investigação, valendo a pena ressaltar que o estudo, do ponto de
vista estético e simbólico, só poderá ser empreendido se for associado
a dados etnográficos de campo, porque nesse tipo de abordagem
específica busca-se compreender na peça o sistema de
representações subjacentes (RIBEIRO; VAN VELTHEM, 1992).

Enfim, a contextualização museológica desses artefatos
mostrou-se pertinente na medida em que, a partir desse
tipo de documentação específica, puderam-se levantar testemunhos
do mundo Karajá, que memorizam o estilo de vida
e de produção própria desses índios, que, poderiam, em determinado
nível, se perder pela falta de um registro dessa
natureza (LINHARES, 2004).

Nota
1 O acervo atualmente passa por um processo de mudança da antiga
reserva para a nova reserva técnica (Parque Zoobotânico para o Campus
de Pesquisa), com as peças acondicionadas em armários e climas adequados
a elas. A mudança acontece desde setembro de 2003.

Referências
DOMINGUES-LOPES, R. de C. Desvendando significados:
contextualizando a Coleção Etnográfica Xikrín do Catete. Dissertação
(Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.
FARIA, L. C. A figura humana na arte dos índios Karajá. Rio de Janeiro:
Museu Nacional, Universidade do Brasil, 1959.
FÉNELON-COSTA, M. H. A arte e o artista na sociedade Karajá. Brasília:
Fundação Nacional do Índio, 1978.
LIMA, T. A. Cerâmica indígena brasileira. In: RIBEIRO, D. (Ed.). Suma
etnológica brasileira. Petrópolis: Vozes, 1986.
LINHARES, A. M. A. Os múltiplos contextos dos objetos indígenas: uma
etnografia das bonecas de cerâmica Karajá. TCC – Universidade Federal
do Pará, Belém, 2004.
MOURA, R. T. Levantamento e descrição de artefatos indígenas
relacionados à pesca do acervo da reserva técnica Curt Nimuendajú.
Boletim Goeldi. Antropologia. Belém, v.17, n 2, 2001.
MPEG. Museu Paraense Emílio Goeldi/CNPq. Catálogo Informativo. Belém:
Diretoria de Divisão Científica, Serviço de Comunicação Social, 1981.
NETO, D. A. Prováveis reminiscências de uma lenda como determinantes
de algumas

* Este trabalho é resultado da pesquisa empreendida no projeto Coleções
Etnográficas: pesquisa e formação documental, orientado pela Dra.
Lúcia Hussak van Velthem
** Cientista Social com ênfase em Antropologia pela Universidade Federal
do Pará. Bolsista de Aperfeiçoamento da Reserva Técnica de Etnografia
Curt Nimuendajú do Museu Paraense Emílio Goeldi.